quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Je ne regrette rien

Como em 7h e 35min, e há quase 100h da apresentação, o jovem Roberto Romero se tornou uma dentre as 75 mil pessoas esperadas para o show de Veronica no Rio.

Eram sete horas da manhã quando meus olhos, ainda sonolentos, se despertaram ao perceberem que o carro já havia estacionado em frente à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. As copas das árvores agitadas pelo vento e a voz de uma faxineira contando para a amiga as últimas peripécias de Flora, vilã da novela das oito, eram os únicos sons que se escutavam nos semidesérticos corredores da FAFICH. A expectativa pelo último encontro com o mestre Hinojosa, renomado professor de Estatística, durou até às 8h, quando ele chegou e encontrou, além de mim, dois empolgados estudantes de Ciências Sociais. Por um momento, enquanto o professor aguardava a chegada de seu público e aproveitava para relatar suas opiniões desinteressantíssimas sobre sociologia, o assunto entre o pequeno grupo, agora enriquecido pela presença de mais três alunos, era Madonna Louise Veronica Ciccone e sua turnê musical pelo eixo Rio-São Paulo.

Com passagem marcada para as 14h do dia seguinte para São Sebastião do Rio de Janeiro, conjeturei a possibilidade de ir ao tão festejado show, que pode ser o último da cantora em terras brasileiras. A chance encontrava-se espalhada pelos murais do prédio, e a apenas R$200 de mim – não pensem que considero isso barato, mas diante das circustâncias... Mas o assunto estava encerrado. Não enfrentaria, sozinho, horas na fila da ave-solene (Maracanã, em tupi-guarani), ainda que a recompensa fosse doce e pegajosa. O relógio marcava pouco mais do que 9:30 da manhã, quando uma reviravolta aconteceu.

Isabela Chimeli tem 21 anos e alguns livros na bagagem, o que me permite considerá-la uma pessoa de opiniões sensatas. Em um breve comentário que fiz sobre a insanidade que seria ir ao show sozinho, ela respondeu: “Por que você não vai com a minha irmã? Ela viaja sábado de manhã e acho que tem espaço no carro. Quer que eu ligue para ela?”. Em menos de vinte minutos e três telefonemas, eu estava prestes a me tornar mais um dentre as 75 mil pessoas que são esperadas no Estádio para a apresentação de Veronica, a rainha do pop.

Mais de um milhão de pessoas andam, comem, compram ou dormem no centro de Belo Horizonte diariamente, mas muito provavelmente somente uma entrou no Shopping Cidade às dez para três da tarde para encontrar com o garoto que lhe venderia o ingresso para o show de Veronica. Um telefonema, e o trânsito na Av. Raja Gabaglia atrasaria o encontro marcado para as 15h. A solução foi me afastar da pista onde adolescentes e crianças brasileiros exibiam suas habilidades deslizando no gelo, uma das atrações do verão local, e entrar nas Lojas Americanas para me distrair, conferindo os últimos lançamentos em CD e DVD do melhor natal do Brasil. Os 15 minutos que demorei na fila do caixa para pagar um compact disc de Edith Piaf em “La vie en Rose”, que no início deste ano disputou as atenções com Veronica e seu “Hard Candy”, foram suficientes para que uma calça preta com camisa listrada e um ingresso da renner para o show chegassem ao centro comercial.

As peças descritas por telefone vestiam um garoto alguns centímetros mais alto do que eu e de nome pouco usual: Lucas. Ele pediu que entrássemos novamente nas Lojas Americanas para efetuarmos a troca. De dentro da mochila, ele tirou um envelope e de dentro do envelope, o ingresso. Lucas explicou detalhadamente todas as informações que estavam contidas no bilhete ao passo que eu, já nervoso, temia que algum louco e fã de Veronica me perseguisse pelas ruas do centro atrás da preciosidade. Lucas, entretanto, e não lhe nego a razão, parecia muito mais preocupado com a possibilidade de um são e não necessariamente fã da cantora, tipo muito mais fácil de se encontrar nas ruas do centro, lhe roubar os R$200 e a chance de um intercâmbio, para o qual está economizando sonhos como o de assistir à material girl.

A próxima parada foi à esquina entre Rio de Janeiro – a rua – e Caetés, onde esperei por Ricardo Lima, um dos fãs loucos de Veronica que freqüentam a região central da cidade, mas que não representava perigo devido à recente amizade que acredito partilhar com ele. Lima, ou laranja – fruta ou cor pela qual prefere ser chamado – estava com um artigo essencial para minha ida ao show e à São Sebastião: minha câmera fotográfica. Clique. Só faltava ir à estação rodoviária mais próxima – o que não era difícil, já que em Belo Horizonte só existe uma que ainda está localizada no centro – e trocar a passagem do dia seguinte por uma de retorno, já que a ida estava garantida com a irmã de Isabela Chimeli.

Às cinco horas e cinco minutos desta mesma tarde, Roberto Romero chegava em casa exausto, porém satisfeito com as realizações do dia. Em menos de 100h, terá vivido incredibilidades, prometidas por uma viagem que já começa surpreendente. Ouvindo um dos companheiros de casa arranhar algo no violão na sala ao lado, o autor se lembra das 38 páginas de um texto que ainda tem que resumir. As comemorações, assim como novos relatos, terão de ficar para mais tarde.

6 comentários:

Gabriel disse...

Meu Deus!! Esse blog já era uma aspiração de longa data ou foi fruto de um mais um élan literário?
Enfim, gostei do estilo...
E OOOHHH MY GOSH, i mean LORD, YOU'RE GOING TO SEE MADONNA!
Manda uma beijo pra ela!

Anônimo disse...

Doreeeei!!!
tava fazendo o trem de demografia (ou tentando) e fui fuçar no e-mail e fiquei feliz por ter entrado aqui e adiado meu sono!! hehhe! tudo pra não fazer o trabalho!!

bom show pra tú!

bjuuus

Unknown disse...

Cara, vc sabe que ARRANHO no violão mesmo né...

Anônimo disse...

cara! só por que eu falei que queria ir ao show da Madozinha, ahahahahahahahaa...

boa apresentação... não se mate no rio! ;}

@laranjudo disse...

haha.

muito bom seu bluógue.
aceita um template bonito pra ele?

até o seu retorno.

Marcela Pieri disse...

desculpa, eu não consegui ler o post inteiro pra comentar. porque, tipo... seu professor se chama HINOJOSA?